… mas sempre respirou pela boca! Deveria ser diferente?!

Desde o nascimento que utilizamos a via nasal para respirar. O ar inspirado pelas narinas é aquecido, humidificado e filtrado, chegando aos pulmões em condições adequadas e protegendo as vias aéreas. A respiração nasal promove o equilíbrio e a harmonia do complexo craniofacial, uma vez que promove o correto desenvolvimento e posicionamento de todos os músculos e estruturas craniofaciais, assim como das restantes funções estomatognáticas (sucção, mastigação, deglutição e fala).

Todavia, devido a causas obstrutivas e/ou funcionais este modo respiratório pode ser afetado e a respiração pode tornar-se oral (pela boca) ou mista (pelo nariz e boca). Existem várias causas obstrutivas como desvio do septo nasal, presença de corpo estranho, alergias, rinites, sinusites, bronquites e hipertrofia das adenoides e amígdalas; e funcionais como hábitos orais permanentes (sucção digital -chuchar no dedo-, uso de chupeta prolongado, postura alterada e ausência ou insuficiência da amamentação).

A respiração oral é responsável por diversas alterações, principalmente em crianças. Assim os respiradores orais apresentam uma ou várias caraterísticas:

• Face longa (dolicofacial -1/3 inferior da face aumentada);

• Olheiras;

• Palato (céu da boca) alto e estreito;

• Lábios, línguas e bochechas com pouca força (hipotónicos) e pouca mobilidade;

• Lábios abertos ou entreabertos e língua grande e volumosa, em posição baixa e interdental (no meio dos dentes);

• Lábios secos e lábio superior curto e retraído;

• Postura corporal incorreta (ombros anteriorizados);

• Retroposicionamento da mandíbula (queixo recuado);

• Alterações das funções estomatognáticas (mastigação, deglutição, fala, sucção);

• Dificuldades de fala devido à flacidez dos músculos orofaciais (lábios, língua e bochechas), das alterações do palato e da oclusão dentária;

• Respiração com ruído e sensação de nariz sempre entupido;

• Mastigação ruidosa, de boca aberta ou de um só lado;

• Alteração da oclusão dentária, mordida aberta ou cruzada (devido à posição da língua);

• Alterações de sono;

• Ressonar e babar;

• Narinas estreitas;

• Gengivas hipertrofiadas (inchadas) e/ou com cor alterada;

• Diminuição do olfato e paladar.

Para além disto, as crianças respiradoras orais, devido às alterações de sono, por norma têm dificuldade de atenção e concentração, o que afeta o rendimento escolar, e diminuição do rendimento físico, uma vez que se cansam com maior facilidade devido à ineficácia respiratória.

É de ressalvar que, é normal existirem momentos em que a criança respira pela boca em consequência de uma alteração temporária que a impede de respirar pelo nariz. Considera-se apenas que a respiração está prejudicada quando a modificação é prolongada e se torna um hábito. As consequências da alteração do modo respiratório variam de acordo com vários fatores como: duração do hábito, causa do mesmo e idade da criança. Assim, quanto mais antecipadamente for detetada a alteração melhor o prognóstico.

Se tem dúvidas quanto à respiração do seu filho pode e deve procurar a ajuda de um terapeuta da fala. O terapeuta da fala é o profissional de saúde que atua na prevenção, avaliação, diagnóstico e intervenção em diversas áreas, como a Respiração, Comunicação, Fala, Linguagem, Motricidade Orofacial, Mastigação, Deglutição, Voz e Fluência. Na área da respiração, o trabalho deste técnico assenta na adequação do tónus muscular, com o intuito de promover o equilíbrio das funções estomatognáticas e, neste caso, reestabelecer a respiração nasal. Contudo, como todos somos diferentes, inicialmente, o terapeuta da fala irá recolher todos os dados pertinentes e avaliar a criança (ou adulto), para que consiga intervir e realizar todos os encaminhamentos necessários (como por exemplo para otorrinolaringologia, alergologia e odontopediatria), contribuindo para a harmonia de todas as funções estomatognáticas e consequentemente para a qualidade de vida da criança.

A Terapeuta da Fala

Vânia Vale