Mas porque é que as crianças fazem birras?
- multiclic
- 23 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Quem tem filhos e nunca viveu a dificuldade de lidar com uma birra? A resposta é simples: ninguém!
Antes de mais é importante referir que as birras são normativas (até certo ponto) e fazem parte do desenvolvimento.
As birras acontecem nos mais diversos contextos e, essencialmente ocorrem a seguir a um “não”. Ou seja, as birras acontecem normalmente quando as crianças pedem algo e os pais recusam. Evitar ou eliminar as birras não passa por dizer “sim” a tudo! Ouvir um “não” e saber gerir as emoções que dele advêm é essencial ao desenvolvimento normativo de qualquer criança.
As birras são, então, a forma de a criança manifestar a sua própria vontade, emoções e necessidades. E como ninguém nasce ensinado, as crianças não sabem ainda expressar-se da melhor forma. Os comportamentos das crianças durante as birras passam por chorar, gritar, atirar objetos, dar pontapés, deitar-se no chão, etc.
Então, como lidar com uma birra?
É importante dizer também o que não fazer. Não devem ceder às birras da criança, pois passam a mensagem de que a birra é um meio aceitável para terem o que desejam e continuará a fazê-la sempre que não vir os seus desejos satisfeitos.
Não há uma fórmula mágica para lidar com as birras que funcione com todas as crianças. É importante ter em conta cada criança, a sua idade e o contexto. No entanto, apresento algumas estratégias:
Um dos primeiros e mais difíceis passos é manter a calma. Se gritar ou bater vai passar a mensagem à criança de que é legítimo ter esse tipo de comportamento quando se está irritado e as crianças têm tendência a moldar o seu comportamento pelo das pessoas que lhe são próximas, portanto irá repeti-lo e aumentar ainda mais a intensidade da birra.
Se a criança tiver entre 1 e 2 anos, poderá pegá-la ao colo e dizer-lhe de uma forma assertiva que não poderá ter/fazer o que deseja e tente distraí-la com algo (por exemplo, falar sobre algo que lhe interesse, cantar, propor que segure algum objeto, chamá-la à atenção para algo que esteja a acontecer à sua volta, etc.).
Se a criança já for um pouco mais crescida, poderá aproximar-se da criança, se possível coloca-la no colo e dar-lhe informação acerca do que está a sentir, porquê e explicar-lhe que não é assim que consegue o que deseja, dizendo por exemplo: “estás irritado porque não te dei o que pediste e isso é normal, toda a gente se irrita de vez em quando, por isso vou-te deixar acalmar”. Depois poderá conversar sobre outras coisas que irão fazer a seguir, por exemplo, para desfocar a criança do que a levou a fazer a birra. Desta forma, estará a explicar à criança o que sente e mostrar-lhe que aquela não é a melhor forma de lidar com a frustração.
Se ignorar totalmente a criança e se se afastar sem lhe dizer nada, a tendência é para aumentar a birra, porque esta é uma forma de a criança expressar o que sente e se a ignorarmos totalmente estamos a dar a entender que não estamos preocupados com ela. Se esse afastamento ocorrer num local público, a criança sentir-se-à insegura e poderá procurar o adulto por esse facto e até terminar a birra, mas na minha opinião, é suposto que compreendamos e que ensinemos às crianças como lidar com as emoções e não deixá-las inseguras.
Depois da birra e longe do contexto onde esta aconteceu e de outros intervenientes (porque falar sobre ela na frente de outras pessoas poderá colocar a criança pouco à vontade e não irá ouvir o que lhe dizemos), deverá conversar sobre a situação, o que sentiram ambos, porque não pode voltar a acontecer e prepará-la para possíveis consequências caso volte a repetir-se. Se falar muito durante o momento da birra, a criança não ouve tudo o que temos para lhe dizer e aumenta o tom do choro ou gritos para se fazer ouvir. Como eu costumo dizer, durante a birra a criança está com o botão “emocional” ligado e o “racional” desligado, portanto, está focada no que sente e não está focada no que lhe dizemos.
Se a criança fizer birras persistentes em determinadas situações, tais como supermercados, cafés, lojas, entre outros, poderá conversar com a criança antes de ir a esses locais e explicar-lhe que vão comprar determinados bens e que não poderão comprar mais nada (se for o caso). Se a criança nessa situação não fizer birra, deverá no final elogiar esse comportamento. Reforçar os comportamentos desejados é muito importante.
Se as birras forem persistentes e ocorrerem frequentemente num prolongado período, é aconselhável procurar a ajuda de um profissional (pediatra ou psicólogo).
Tal como disse anteriormente, não há uma única fórmula mágica. É importante ter em conta cada criança e situação.
A Psicóloga,
Telma Lameira
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