COVID-19: Como ajudar as crianças a perceberem o que é e ajudá-las a ultrapassar este período?
- multiclic
- 19 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
O momento difícil que vivemos gera, em todos nós, medo, ansiedade, tristeza e até raiva. Saber gerir essas emoções são um desafio para adultos e crianças. Encontrar forma de o fazer é importante para sairmos desta crise de forma mentalmente saudável.
Relativamente às crianças, o que podemos então fazer para as ajudar a lidar com as suas emoções?
Explicar-lhes o que está a acontecer é o primeiro passo. Consoante a idade das crianças, devemos explicar-lhes o que é o COVID-19, como se devem proteger e a razão pela qual estão em isolamento social.
Devem evitar-se comentários alarmistas como: “não te podes aproximar dos avós, se eles ficarem infetados podem morrer” ou “tem cuidado, porque se ficares infetado, terás de ficar isolado de todos e poderás não nos ver durante muitos dias”. Deve evitar-se qualquer comentário que possa ativar o sentimento de culpa e insegurança das crianças. Deve ser reforçado que a criança não tem qualquer responsabilidade pelo que está a acontecer nem culpar outra pessoa, raça ou país.
As crianças devem sentir-se à vontade para colocar dúvidas e partilhar o que sentem com os seus pais/pessoas significativas. Através do brincar poderá distrair-se e, ao mesmo tempo, expor os seus sentimentos e medos.
As crianças em idade escolar e os adolescentes poderão procurar informação acerca da pandemia.
Na medida do possível, esse acesso às notícias deve ser controlado. Pelo facto de as crianças e jovens não analisarem e filtrarem a informação como um adulto, poderão elaborar pensamentos e conclusões demasiado alarmistas, portanto, esse acesso à informação deve ser acompanhado, dando espaço para o esclarecimento de dúvidas. Poderá pedir ao seu filho para lhe explicar o que viu/leu para perceber o seu entendimento acerca do assunto e poder esclarecer possíveis enviesamentos.
Estar constantemente à procura de notícias e informação acerca da pandemia, podem gerar elevada ansiedade e dificuldade em abstrair-se e relaxar. Tente diversificar as suas e as atividades diárias do seu filho. Alguma estabilidade na rotina ajuda a manter a sensação de segurança, mas não precisa de estabelecer horários rígidos para as diversas atividades, isso poderá gerar ainda mais ansiedade. Lembre-se também que as crianças precisam de ter tempo de brincar livremente, sem ter todas as brincadeiras planeadas e controladas. Tente manter estáveis os horários de deitar/acordar (mesmo que ligeiramente diferentes dos horários escolares), das refeições e evitar andar todo o dia de pijama.
Alguns comportamentos poderão ajudar neste momento de isolamento, tais como manter o contacto com amigos e familiares (utilizando as várias vias de que dispõe de contacto à distância), fazer exercício físico, manter uma alimentação saudável e equilibrada, brincar, fazer novas experiências culinárias ou culturais (em casa, obviamente), limitar o tempo de utilização de tablet, telemóveis e televisão e procurar momentos para rir e descontrair.
Se algum dos seus familiares estiver infetado, dependendo da idade, a criança deve perceber porque é que essa pessoa terá de estar isolada ou hospitalizada, dando liberdade para colocar dúvidas e falar com a pessoa (através dos meios de comunicação à distância), se assim for possível. Lembre-se que, estando agora 24 horas por dia com o seu filho, se for uma criança mais crescida, será difícil esconder-lhe que um familiar está doente e a sua mudança de comportamento e de estado de espírito deixá-lo-ão mais inseguro e ansioso, pois não compreende o que está a acontecer.
Durante este período podem ocorrer alguns comportamentos a que deverá estar atento, tais como falta ou aumento do apetite, alterações no padrão do sono, enurese noturna, birras constantes e exacerbadas, choro regular, agressividade, entre outras alterações do comportamento. Se isso acontecer, contacte um profissional de saúde mental.
Dar significado aos acontecimentos poderá ajudar a geri-los. Portanto, pensar na razão pela qual estamos isolados, afastados dos familiares, amigos e local de trabalho, poderá ajudar a suportar melhor os dias de isolamento. Pense que é um período em que está a lutar pela sua saúde, dos seus familiares e todos os cidadãos. Não se sente um herói?
A Psicóloga,
Telma Lameira
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